Poesias

Para Não Morrer Ao Chegar

Todo o humano, não estando só,
levantado pelas mãos balouçantes
dos sonhos, como o trigo ao vento,
por alqueires que semeou e colheu,
há de aprender a andar e andar
para não morrer ao chegar à terra prometida,
ali onde se vive tão infeliz, só de palavras, de saudades...
onde até os sinos da colheita se calam, de luto.


Todo o humano, não estando só,
há de andar e andar para não morrer
ao chegar ali onde se dobra o Destino
por todos os joelhos, por todas as humilhações
até aprender - os brios levantados – a andar
por todos os desejos co-movidos, - a andar
rumo a um lugar por legado prometido
e para os irmãos todos, os humanos, os vivos
de um mesmo doer que não morre, ombros
de um mesmo andar que não cessam de suportar
do coração, até cumprir-se o fim de tudo.
A última coisa que descobrimos,
um pouco antes de morrer é que tudo
o que fizemos não teve importância,
e o que haveremos de dar conta
ao Senhor dos bárbaros, e diante da espada,
é o que não fizemos, mas apenas sonhamos.
Só resta cumprir o trabalho não feito
vivendo o tempo pelo avesso da infância
de tudo o que não é alheio às alegrias
que se põem de pé – e os dias passam, os sonhos
passam, o destino não espera e a esperança
é o outro nome da morte. O que escondes
então, o que podes revelar, os feitos,
os bens da alma? O que podes padecer,
os males do corpo, os nadas, os perdimentos?
De tudo deixarás de prestar conta, da hora
que passa, de teu puído sudário, até o dia
em que corpo e alma não mais sentirão fome.


20/07/2010

 

 

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